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sexta-feira, 5 de junho de 2009

"Governo de Santa Catarina pensa mais em sexo em que literatura"

artigo de Alessandro Martins

O escritor Oscar Wilde disse certa vez que não existem livros morais ou imorais: existem sim livro bem escritos e livros mal escritos.

Ele está certo, mas no que diz respeito à literatura para escolas, é claro, é necessário tomar cuidado, afinal há crenças, pudores e a puericultura em jogo.

Ao adotar um livro para o ensino público, um governo precisa avaliar com precisão o material a fim de que não tenha de retirar de sua listinha de compras - que inclui elásticos para dinheiro, clipes, papel higiênico e, possivelmente, cotonetes - 130 mil exemplares de determinada obra sob os holofotes espalhafatosos de um espetáculo ridículo.

Veja: a avaliação tem de ser anterior, visto que a suposta formação moral dos jovens deveria estar no mesmo patamar que a formação literária e artística dos mancebos e donzelas. De maneira que a suposta formação moral não prejudique a artística e a artística não prejudique a moral.

O escritor Cristóvão Tezza foi vítima recentemente da inversão dessa ordem.

É legítimo que um sistema de ensino adote para si os valores morais que melhor lhe convierem, visto que trata-se de um sistema de ensino e visto que conveniência e moral costumam andar saltitantes e de mãos dadas pelas calçadas da História.

Mas, por favor, façam a coisa direito. Não tal e qual patetas.

O governo de Santa Catarina comprou 130 mil exemplares do livro Aventuras Provisórias, de Cristóvão Tezza, para que seus estudantes o lessem e fizessem provinhas de interpretação de texto. Lá pelas tantas alguém descobre três ou quatro linhas que descrevem sexo (não encontrei um plugin de WordPress que fizesse aparecer as chamas do inferno em torno da palavra sexo).

E, finalmente, por conta disso a compra é cancelada. Os livros são jogados na fogueira e o escritor também, com prejuízos morais que ele descreve em um excelente texto.

•Leia Não Me Adotem, de Cristóvão Tezza
A impressão que se tem depois desse episódio é que alguém do governo leu a orelha do livro, a biografia do autor (viu que se trata de um catarinense) e disse: “Ei, Johnny! Acho uma boa idéia adotarmos esse livro para nossos alunos fazerem provinhas de interpretação de texto, parceiro!”.

Sem mais.

Ou seja, o governo compra 130 mil exemplares - enfileirados são uns 30 quilômetros de livros (sim, eu calculei) - sem uma avaliação profunda da obra sob o microscópio dos padrões morais socialmente e governamentalmente hoje convenientes. Afinal é só um livro.

Isso demonstra o valor que o governo dá à literatura e ao que os seus alunos leem.

E quando alguém descobre, por acaso, que há um parágrafo de sexo (fogo, fogo do inferno!) lá no meio de uma das páginas, as luzes se acendem e as engrenagens da inquisição começam a rodar. Afinal é SEXO!!!!! (achei a cor vermelha, aleluia!)

Isso demonstra o valor que o governo dá ao sexo e ao que seus alunos pensam a respeito dele.

Não entrarei nos significados que tudo isso tem, pois confio no poder de seu discernimento, caro leitor, cara leitora.

Não entrarei nos méritos morais do Governo do Estado de Santa Catarina, mas esse é um caso clássico em que, para preservar-se os valores morais, feriram-se profundamente os valores éticos.

E mostrou-se como esses dois conceitos podem andar separados.

fonte:http://livroseafins.com/2009/06/04/governo-de-santa-catarina-pensa-mais-em-sexo-que-em-literatura/

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"Na busca da sabedoria, o primeiro estágio é calar, o segundo ouvir, o terceiro memorizar, o quarto praticar, o quinto ensinar."Rabi Salomon Ibn Gabirol (Século XI; Espanha)

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